"Comer é um ato de fé" - Roberto Malvazzi
Recentemente estava lendo os blogs e sites da
região e encontrei esse texto “Comer é um ato de fé”, do filosofo, teólogo, escritor, cantor e compositor Roberto Malvazzi (Gogó).
“Sartre dizia que a sociedade vive de uma “fé
laica”, isto é, precisamos acreditar que a pasta de dente não tem veneno, que o
avião tem combustível, que a ponte não vai cair, que o remédio tem a substância
ativa na quantidade certa, assim por diante. A razão dessa fé é que não temos
condição, como cidadãos, de averiguar caso a caso se o que nos dizem procede
verdadeiramente ou se é uma farsa.
Os chamados “global players”, essas
transnacionais que dominam ramos específicos do capital no mercado global,
seguem o script comum do suborno, da compra, da deposição de governos
democraticamente eleitos, da promoção da guerra, da destruição de países, da
eliminação de populações inteiras em nome de seus interesses. As empreiteiras
brasileiras, a indústria da carne e a Petrobrás estão nesse campo. Acontece que
os “players” dos Estados Unidos e Europa querem o lugar que essas ocupam, ou
ocupavam.
A carne podre nos prova que o agro é tech, que
o agro é pop, que o agro é tóxico. Desconfiávamos, muitos nutricionistas nos
diziam que isso é lixo alimentar. Agora não precisamos mais da desconfiança.
Obviamente o marketing também mente.
Bom, não adianta sermos vegetarianos, porque
nossas frutas e legumes contem também altas doses de veneno, a não ser os
poucos privilegiados que podem comer um alimento orgânico.
São as contradições da alma e da prática
capitalista. O puritanismo moreano destruiu os “players” do Brasil e nós,
comprovadamente, ficamos sabendo que precisamos de uma agricultura
agroecológica se quisermos comer alimentos sadios. Da forma como a indústria de
alimentos está organizada, não temos saída.
A única vantagem de Moro e do golpe é que as
crueldades desse país ficaram mais transparentes, inclusive as dele e dos
golpistas.”
*Texto extraído do site Roberto Malvazzi